Sobre

Ao se assumir a premissa de que as tecnologias são patrimônio da humanidade, seguindo Vieira Pinto, assume-se que estas não são exclusividade de certas culturas, que vão muito além do instrumental, do maquínico. Suas dimensões epistemológicas, axiológicas, históricas e socioculturais necessariamente estão imbricadas nos manuseios do alcançável pelos seres humanos no mundo. Nesse horizonte, a compreensão das tecnologias se faz ampliada e não só permite, como exige o reconhecimento da alteridade no mundo. Postula-se que o campo de estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), sobretudo na América Latina e no Caribe, deve responder às contribuições das matrizes africanas e indígenas, valorizando conhecimentos ancestrais comumente abstraídos da literatura dita universal, por não corresponderem aos critérios de cientificidade estipulados pelo ocidente. Desta forma, busca-se pensar e construir outras maneiras de compreender as tecnologias no campo CTS para enriquecer o olhar e as discussões sobre elas.

Nesta perspectiva, articula-se neste encontro, Entre Algumas Outras Tecnologias: O desafio de reafirmar a ancestralidade para transformar a contemporaneidade rumo ao bem viver, os trabalhos e experiências de diferentes acadêmicos, militantes e comunidades afro e indígenas que buscam integrar, valorizar e retomar os diversos olhares, práticas e conhecimentos que, sobre as tecnologias, têm se construído no decorrer da história.

Almeja-se também uma compreensão de como, na contemporaneidade, se articulam conhecimentos ancestrais aos ocidentais em fazeres políticos, organizativos e de resistência de comunidades subalternizadas. Acredita-se crucial ao fazer tecnológico democrático o respeito à ancestralidade, à liberdade, à solidariedade, à expressividade, à coletividade e à autonomia, pois apenas assim será possível transformar alguns modos de fazer e de pensar em direção a outros, onde imperem formas alternativas de resistência e mobilização, presentes em concepções do bem viver.